sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Wadi Rum - O deserto de Laurence das Arábias na Jordânia - Dia 56

E o dia da aventura chegou! Acordei, me equipei com o meu super-tênis de aventura da NorthFace que é ótimo  para escalar as coisas pois tem um solado com estilo de garras (lembra do Knukles amigo do Sonic?), minha costumeira calça bege levíssima, camiseta vermelha de algodão, o óculos de sol ideal para o deserto e o mais importante: o turbante jordaniano! Quando acordei, que era cedo, alguns turistas já estavam bem acordados prontos para sair, tomando o café da manhã. No meu quarto havia umas 12 pessoas dormindo, uns 8 deles incluindo eu e meu pai, fomos para o deserto. O café da manhã não foi tão reforçado, mas pelo menos existiu. O céu estava azul, o frio da manhã não incomodava, e enfim vesti minha mochila e entrei na van em direção ao deserto. Acredito que grande parte dos que se hospedam ali no Valentine Inn, em Wadi Musa, vão para o deserto de Wadi Rum, pois a propaganda para comprar o pacote no hostel é grande. Pagamos cerca de 60 dólares por pessoa pelo tour, transporte, acomodação e comida. Mas vale a pena. 

Chegamos a uma entrada que parecia de um parque nacional, passamos e lá dentro havia uma pequena cidade, parecia estar na beira do deserto, e estava. Ali vivem os beduínos, alguns com seus negócios próprios mas a maioria voltada para o turismo, grande parte deles vestia o mesmo turbante que eu, característico da Jordânia, vermelho e branco. Chegamos em uma casa, e lá já estavam uns 4 turistas, esperamos mais um pouco, havia lá uma holandesa no meio do pessoal árabe, achei estranho, depois descobri que ela trabalhava como voluntária para eles, era como uma experiência de vida para ela, viver no deserto com os beduínos.

Então esperamos mais um tempo e chegaram dois jipes que nos levariam para o passeio. Cada jipe com uns 6 turistas atrás, conosco estava uma japonesa, uma velhinha inglesa e um casal de espanhóis que vivem em Barcelona. Foi com eles que conversamos e passamos a maior parte do tempo. No caminho percebi que algumas pessoas em vez de fazer uma viagem de um dia de jipe faziam uma viagem de 3 dias com um camelo. É fatigante, como diria meu amigo fulano de tal. Imagino a dor na... bacia... do indivíduo que faz isso. Para quem não sabe andar a camelo é mais desgastante que andar a cavalo, é uma dor enorme para quem não está acostumado. Bom, boa sorte para eles, nós seguimos em frente.

Só então eu fiquei sabendo do roteiro da viagem, por onde passaríamos, então percebi que grande parte da jornada seria pelos pontos importantes para a vida daquele personagem histórico que tínhamos visto a história na noite anterior, Laurence das Arábias. O céu estava azul e lindo, a areia era vermelha, e deixávamos uma nuvem de poeira para trás enquanto passávamos ao lado de paredões impressionantes, e eu com uma vontade enorme de subí-los para ver a paisagem lá de cima. Olha essa foto, tem quatro pessoas ali escalando o paredão, clique na foto e tente achar, dica: olhe na rachadura.


Nossa primeira parada foi num lugar onde nos disseram que era onde ficava uma grande parada de camelos, chamavam de "A fonte de Laurence das Arábias". Na verdade tínhamos que perguntar ao motorista o que era aquilo pois não tínhamos um guia, e decidíamos o tempo gasto em cada lugar. Ótimo, eu gosto de ser meu próprio guia. Então paramos e não sabíamos quanto tempo ficaríamos ali, perguntamos e o motorista não soube dizer, então conversamos entre nós e falamos meia-hora. Aí pensei, o que vou ficar fazendo meia hora nesse lugar no meio do nada? Vi algumas pessoas tentando subir um pouquinho a montanha que ficava em frente, e não pensei duas vezes, coloquei meu super-tênis Knukles para trabalhar. Primeiro quis segui-los e ver até onde eles iriam, mas então eu os perdi no meio da subida, e continuei subindo, e subindo, e subindo, até que cheguei num lugar que parecia ser no meio da montanha, com um pouco de área horizontal, que dali para frente era totalmente vertical até o topo. E só então eu olhei em minha volta, e fiquei estonteado com a maravilha daquele lugar. Aos que ficaram lá embaixo sinto muito, não tiveram o mesmo privilégio que eu tive. Em minha visão o mundo se dividia em azul e vermelho, com as suas belas variações de tom. O céu impecável em minha frente, um pouco para a esquerda um paredão enorme, que percebi que era igual ao que eu estava, com uma divisão no meio, e dali pude ver a altura que eu estava. E um pouco mais a direita a imensidão do deserto sem fim, que se perdia no horizonte. Dali de cima era bonito ver o tamanho da árvore ao lado do jipe e das pessoas lá embaixo, precisava de um binóculos para ver bem. Agradeci e pedi às pedras que tirassem fotos bem bonitas para mim daquilo tudo, posicionei algumas vezes a câmera nas paredes daquela montanha que já havia testemunhado tantas histórias, e tirei algumas fotos como essas que seguem.



Quando eu olhei denovo lá para baixo, todo mundo subindo no jipe, e meu pai acenando para mim. Será que iam me abandonar no meio do deserto? Bom, na dúvida comecei a descer meio correndo, meio pulando de pedra em pedra, o fato é que descer foi 100% mais fácil do que subir, em pouco tempo estava lá no jipe. A velhinha do jipe já estava de cara feia comigo, pensando (não teve coragem de me falar, mas falou para os outros antes), que era falta de respeito eu andar por aí e não me importar com o grupo. Naquela hora fazia 25 minutos que ela tinha sugerido a todos uma parada de 30 minutos, eu não desrespeitei o combinado, mas tudo bem, o dia estava feliz!

Próxima parada: dunas vermelhas. Descemos do jipe, alguns turistas ingênuos foram de tênis e encheram os tênis de areia, já eu gosto de pôr o pé na areia, subi, desci, bem bonito em volta. Conheci uns americanos bem legais, uma família na verdade. Avó, pai, mãe, filho de uns 16 anos e filha de uns 14 anos, bem legais na verdade, queria ter passado mais tempo com eles, eram "super pra cima". Até quiseram que eu gritasse dali pra fazer eco no paredão da frente, como eles estavam fazendo. Dali pra frente encontrei eles em mais alguns pontos, mas depois, nunca mais os vi e quase certamente nunca mais os verei, coisas de viagem. A próxima parada também foi com eles, um paredão com escritos na pedra, desenhos de camelos. Seguem as fotos.

 A próxima parada foi num local de ruínas onde dizem ser as ruínas da casa onde viveu Laurence das Arábias. Não foi a melhor das paradas, mas com certeza foi importante. O calor da tarde no deserto já estava nos deixando com fome e sede. Portanto paramos em um local de sombra para lancharmos, cada um trouxe seu lanche, pois não sabíamos o que iríamos enfrentar no deserto, eu e meu pai tínhamos um poco de alguma bolacha, de alguma fruta, de alguma coca-cola, suprimento básico. Não éramos só nós no deserto, outros jipes passavam com turistas pra lá e pra cá, vi até uma Land Rover passando por lá, além dos camelos levando sofridos turistas e camelo aparentemente in natura, pastando alguma coisa no deserto. Foi legal ver uma manada de camelos soltos andando pelo deserto. 

A última parada do passeio foi num lugar curioso, o tempo gastou a pedra, e com a erosão foi formada uma ponte de pedra entre outras duas, e claro, eu subi lá pra testar se era firme! Foi a última vez que vi os americanos.


Enfim, o sol estava se escondendo e era hora de conhecer o nosso acampamento beduíno. Chegando lá, vi algumas tendas com cobertura preta, tendas longas com vários locais para dormir. Era ao lado de um pequeno morro, e de frente, ao longe, a um imponente paredão, vocês verão nas fotos. As próximas fotos, do acampamento vou colocar só no fim da postagem, me dá agonia ver tantas fotos separando os parágrafos, não sei por quê. Minha primeira dúvida ao chegar ao acampamento era: tem banheiro? E me responderam que sim, até com água quente, além de vaso sanitário! Eu acreditei. Chegamos lá e fomos recepcionados pelo dono da empresa de turismo (um beduíno chefe), e a holandesa, além de seus beduínos ajudantes. Havia uma barraca só para o chefe, e as outras eram tendas longas. Numa delas era a social, onde fizemos mais tarde o jantar, conhecemos os aposentos. Colchões feitos de pele de carneiro acredito, jogados por cima da areia, com um cobertor por cima, e travesseiro.  A cada três ou quatro camas havia uma divisória, então era como se fosse 4 camas por quarto. Ótimo! Eu amo dormir deitado na areia! Havia um elevadinho pra cada entrada de tenda, pelo perigo de entrar ali algum escorpião, ou cobra, ou bicho peçonhento do deserto. Mas é claro que ninguém pensou nisso na hora. Vasculhei as proximidades, não havia muita coisa além de areia e muita paisagem. Conheci os banheiros, a água não estava funcionando, não chegava lá, então o banheiro se tornou atrás do morro onde estávamos. Havia além de nós mais um grupo grande de italianos que faziam escaladas por ali. Quando o sol começou a se pôr, já me propus a andar até um local mais afastado, em que seria melhor o espetáculo do pôr do sol no deserto, e realmente foi, o casal espanhol foi conosco e compartilhou do momento, mas eu pensei que o espetáculo acabava por aí, mero engano. O céu começou a perder a luz do sol, e começou a se encher de outra luz, a luz da imensidão de estrelas. 

Isto merece um parágrafo particular. Foi uma das experiências mais fascinantes da minha vida toda, e olha que sou um cara viajado. O céu estava completamente tomado por estrelas, não havia um lugar sem estrelas, e era nítido e bonito de ver a via láctea, onde se concentram a maior parte das estrelas de nosso céu, ia de um horizonte a outro, não era uma noite escura, e sim uma noite iluminada. É engraçado perceber a grandeza da criação de Deus, e a nosso orgulho das nossas criações, tão imperfeitas, limitadas e pequenas. A beleza não é proveniente da mão do homem. Depois do jantar beduíno, eu estava com a barriga cheia, nada melhor do que fazer o que eu fiz, deitei na areia, um pouco afastado, de barriga para cima, olhando as estrelas por um tempão, até a hora que fui para a tenda, senão dormiria por ali mesmo. Uma paz enorme ao encontrar a simplicidade da perfeição.

Agora voltando um pouco no tempo, antes de dormir, após o pôr do sol, estávamos ansiosos pela comida, morrendo de fome, e a comida demorava, e não tínhamos muito o que fazer ali, sem eletricidade. A pouca luz que tínhamos, além das estrelas era de alguns lampiões. Mas então, eu descobri o por quê de alguns beduínos estarem cavando toda hora uma área da areia, como se estivessem abrindo o forno pra ver se o frango estava bom. Era exatamente isso que estavam fazendo! Tentei fotografar mas não saíram as melhores fotos, mas o que aconteceu foi, havia um barril metálico enterrado na areia o dia inteiro, e neste barril estavam muitas batatas, e frango temperadíssimo. Quando pegaram a pá e desenterraram, abriram o barril e tiraram a grelha, minhas papilas gustativas deliraram. Saía uma fumaça gostosa dali, levaram a comida para a tenda, sentamos no chão e comemos numa mesinha que tinha uns 30cm de altura no máximo. Muito bom! Ficamos um bom tempo ainda papeando com os colegas turistas, cada um de um canto do planeta, compartilhando daquele momento inesquecível para cada um de nós. Após as conversas, fiz o que já mencionei no parágrafo anterior, deitado na areia fria da noite do deserto, admirando a imensidão da criação de Deus, e então fui dormir na tenda dos beduínos, no meio do deserto de Wadi Rum, na Jordânia.










Um comentário:

Inês disse...

Nossa Lucas muito legal sua aventura, pretendo ir para lá em abril e já estou lendo para me preparar melhor.
Parabéns pelas fotos
Inês

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