domingo, 19 de dezembro de 2010

Por que precisamos de fronteiras? Indo do Líbano para Israel por terra – Dia 38


Por que precisamos de fronteiras? Indo do Líbano para Israel por terra – Dia 38

Por que precisamos de fronteiras? Perguntou o Pequeno Príncipe. E o rei respondeu: Por que precisamoss de fronteiras? Você não pode entender, é uma criança.

Este dia foi um dia para se fazer esta pergunta, quem criou as fronteiras, porque elas existem? A minha lógica me responde que as pessoas se juntam, se casam e formam famílias, povos, com costumes que divergem de região para região. E assim formam culturas e povos diferentes. Assim é preciso fronteiras para delimitar o espaço que cada povo tem, e o seu poder. Mas, aqui no Oriente Médio essa história de fronteiras dá muita confusão, são muitos povos diferentes com culturas milenares.

Estamos na época dos reinos diferentes, dos pés da estátua de Daniel, dos dedos de ferro e barro. Me refiro a profecia do profeta Daniel, que viveu na Babilônia, vou contar rapidinho: O rei da Babilônia teve um sonho e pediu a todos que interpretassem, e ninguem conseguiu, apenas Daniel, o sonho era assim: Havia uma estátua imensa em explendor com a cabeça de ouro fino, peito e braços de prata, o ventre e coxas de bronze, as pernas de ferro, e os pés em parte ferro e parte barro. E então caiu uma pedra nos pés da estátua, que a destruiu completamente, e no lugar ficou a pedra, que se tornou uma montanha que encheu toda a Terra. Daniel interpretou: a estátua são os reinos que reinarão sobre toda a Terra: a cabeça de ouro fino é o teu império babilônico, depois haverá um império menor de prata (que foi o assírio), depois haverá um império de bronze (a influência grega no mundo), depois haverá um reino de ferro, que conquistará e esmiuçará tudo (Império Romano, sempre conhecida por sua mão de ferro), e depois haverá um reino dividido entre vários, uns mais frágeis de barro e outros fortes de ferro (hoje em dia, Brasil certeza que é barro, e Estados Unidos certeza que é ferro), e aí no tempo destes reinos virá o reino dos céus, que esmiuçará todos os outros, e permanecerá para sempre. (Daniel 2, 26-49).

Bom, isto só tem a ver com o assunto pelo fato dos dedos serem os reinos divididos, mas, enfim, vou começar minha história.

Vocês sabem que o Líbano odeia Israel, e Israel odeia o Líbano e todo o mundo árabe. Partindo deste pressuposto, e também de que é difícil entrar num país, se você já passou pelos países inimigos deste país, você pode pensar: Posso eu visitar Israel depois de ter estado nos seus países inimigos? Ou, posso eu estar em um país árabe, depois de ter estado em Israel? A resposta para a primeira pergunta é sim, e para a segunda é não.

O plano era o seguinte: Acordar em Beirute, pegar um ônibus para Damasco, pegar uma condução para a cidade de Irbid no norte da Jordânia, de Irbid pegar um táxi para a fronteira norte da Jordânia com Israel, a fronteira do Jordão, e da fronteira pegar um ônibus para Nazaré.

Acordei na pensão meia boca de Beirute e logo cedo me mandei para a rodoviária, queria sair cedo para conseguir chegar no mesmo dia em Israel. Cheguei na rodoviária e não havia ônibus, aquela rodoviária é um nojo, vazia é pior. Aí perguntamos porque estava vazio para algumas pessoas, nos responderam: Hoje é Sexta-feira, não haverão ônibus de Beirute para Damasco hoje. Perguntamos, e qual seria o preço? Responderam que seria U$17,00 cada. Eu não tinha pensado nisso, foi uma variável importante que não considerei, viajar pelos países no dia que as pessoas destes países não trabalham, é complicado.

Aí veio um oferecendo táxi, era um carro dos anos 50, caindo aos pedaços, não aceitamos. Logo chegou outro oferecendo táxi, aí olhamos era um carro daqueles grandes estilo Blazer, todo preto e com os vidros bem pretos. Meu pai não quis aceitar, eu pensei: não há outra alternativa. Acabamos por aceitar este táxi, cobraria U$22,00 de cada, pouco a mais que o ônibus, e seria mais rápido na fronteira com a Síria. Depois que entrei no carro, entendi porque meu pai não quis aceitar, era um carro suspeito. Todo escuro, carro bom, sem nenhuma menção de que era um táxi, dois sujeitos suspeitos dentro do carro, e nos colocaram no banco traseiro que não consegue sair do carro sem que os da frente saiam antes. Era bem fácil de eles desviarem o caminho, irem pra algum lugar deserto, virar para trás com uma arma apontada e dizer para deixar tudo o que tem, e sair andando, senão morre. Ainda os caras suspeitos do carro ficavam dando umas olhadas estranhas pra trás, meio que analisando. Nessa hora eu, só para garantir, discretamente deixei metade de todo meu dinheiro no bolso interno que ninguem põe a mão, e metade debaixo da palmilha do tênis. Haha, é, não dá pra confiar assim em todo mundo. Melhor prevenir. O carro era estranho.

Graças a Deus, foi só um sexto sentido falso, haha. Chegamos na fronteira com o carro, e os dois suspeitos saíram e não voltaram mais. Tivemos que pagar outro visto cada um, mesmo sendo só para trânsito, há uma tabela com todos os países e preços de visto, alguns variam se é visto para um mês ou para trânsito, não é o caso brasileiro, pagamos os U$28,00 cada um para entrar na Síria. Chegamos são e salvos na rodoviária de Damasco graças a Deus. Lá vimos que só havia ônibus para Aman, na Jordânia, não para Irbid, como nós queríamos. Além disso o próximo ônibus para Aman seria dali a 3 horas, o que nos atrasaria demais, seria possível ir neste ônibus até a fronteira, e de lá pegar um táxi para Irbid. Então nós saímos e vários taxistas nos cercaram, um deles disse que nos levaria para Irbid pelo mesmo preço que nós pagaríamos no ônibus, o preço do ônibus era U$10,74. Então cada um pagou U$10,74 e fomos. Na fronteira, tivemos que pagar para sair da Síria, cerca de U$12,00 cada um. Tranquilo, e para entrar na Jordânia mais tranquilo ainda, mas tivemos que pagar por um visto, não deu pra escapar, deu uns U$15,00 cada um. Na fronteira trocamos de táxi, sem pagar nada extra, e este nos levou até Irbid na rodoviária. Na rodoviária de Irbid, na Jordânia, logo que descemos um sujeito nos abordou perguntando para onde queríamos ir, falamos que para a fronteira e ele falou que nos levaria, andamos em volta perguntando outras opções, e aquela primeira foi a melhor e mais barata, então por U$20,00 chegamos na fronteira com Israel. O motorista diz que é funcionário público do Ministério da Cultura e quando é ele tem folga ele leva turistas pros lugares por preços módicos. Na fronteira, primeiro chega num check-point, desce do táxi, pega um outro táxi e chega no lugar onde faz a saída da Jordânia, aí pega um ônibus de lá para a entrada de Israel. Aí sim está em Israel. Quando chegamos na saída da Jordânia era 15h da tarde ainda, tranquilo. Até chegar na entrada de Israel era 16h. Eu estava já bem acostumado com essa história de tensão de fronteira, afinal o dia todo nisso né, aqueles caras árabes olhando pra tua cara pra ver se carimba, falando pra pagar isso ou aquilo, pelo menos ser brasileiro facilitava.

Mas, chegando na entrada de Israel, fiquei maravilhado. Que fronteira maravilhosa! Eu nunca estive numa fronteira tão bonita!! Por que? ? Entrei lá e era só menina bonita de 18 a 20 anos mais ou menos, tudo novinha e linda! Me senti no reino das amazonas! Hahaha, lindas e perigosas! Eu falei: ah, podem me prender, me interrogar, me revistar, que eu estou feliz! Não tem problema!

Cheguei pra falar com a moça do guichê, Naomi o nome dela, sim, eu sei o nome dela. Aí ela toda simpática, perguntando as coisas básicas, porque eu estava indo pra Israel, etc. Eu falei que estou desde julho viajando, que eu tenho um blog de turismo, que eu estava na Europa e estava indo por terra pra Jerusalém. Até que veio a pergunta crucial: então você passou em algum país árabe nos últimos tempos? Aí eu: ahh sim, claro! Hoje inclusive eu acordei em Beirute no Líbano! Depois fui pra Síria, depois Jordânia e agora aqui! Legal né? ? Aí ela: nossa que coisa! Vish, então peraí vai ser mais complicado. Aí levantou e falou com o chefe dela, e ele explicou pra ela o que tinha que fazer. Aí ela veio e falou: Então Lucas, vou ter que fazer algumas perguntinhas pra você, que é o padrão, e depois teu passaporte vai para avaliação, tá? Aí eu pensando “Oba, entrevista com a Naomi!” falei: Claro! Aí ela fez várias perguntas básicas, mas aí eu ia contando tudo pra ela, do navio, do Brasil, da minha viagem, do blog, do que vou fazer quando voltar pro Brasil. E já que a gente estava na intimidade também ela me contou que ela é na verdade holandesa, que ela tem dois amigos brasileiros, que ela é realmente do exército israelense, que ela está ali só provisoriamente, etc. Aí ela pediu meu nome e e-mail pra escrever num papel, pensei que era pra ela, mas acho que ela passou pro chefe dela, haha. Só não passei o blog no papel porque pensei que poderia ser pra análise e não pra ela, aí, né, melhor não. Mas nossa, linda demais, e as outras também. Aí ela me ofereceu um cigarro, tá né, amazona. Isso porque ela ia mandar minha entrevista pra alguém e eu teria que esperar. Não deu nem meia hora, nesse tempo fiquei só observando as mocinhas passando com fuzil pra lá e pra cá. Conversando como se tivessem na escola. Uma com roupa de soldada, arma, uma mochila rosa do lado, falando no celular rosa, e com os pés pro alto. Tenho até foto, será que posto? Sabe que não pode tirar foto em fronteira, ainda mais de soldado né, se pegam era uma vez, por isso que não pedi foto com a Naomi. Aí depois de uns 20 e poucos minutos me chamaram, a Naomi já tinha perguntado se eu queria que carimbassem no meu passaporte mesmo ou em outro papel, eu falei que poderia ser no passaporte, não pretendia voltar pra país árabe antes de 2012 quando expira o meu. Aí chamaram, fui, peguei o passaporte, e fiquei chateado que eu já teria que ir embora dali! Haha. Aí todas elas (umas 4) todas simpáticas, e eu perguntei como eu saía dali, elas falaram que só de táxi pois era sexta e tudo estava fechado, aí eu ah que chato! Aí nos despedimos, todas as quatro em coro: Bye Lucas!! Me chamando pelo nome ainda! Ai que fronteira!!

Mas, tudo que é bom passa logo. Haha. Saímos e lá estava um taxista, ele me mostrou a tabela deles em hebraico que mostrava o preço do táxi para Nazaré: 350NIS, ou seja U$100,00. Mas é um táxi grande, que se forem 10 pessoas fica uns U$10,00 cada um. Acontece que estávamos só nós, e já era 17h anoitecendo, tivemos que pegar o táxi sozinho e pagamos U$90,00 para a viagem, essa foi uma das piores facadas do mochilão. Estávamos sozinhos mesmo, todo o tempo que fiquei na fronteira, não tinha ninguem, só nós e as moças bonitas. O motorista era meio doido, contador de histórias, e falou que ficamos pouco lá considerando que estávamos no mesmo dia no Líbano, que em média as pessoas ficam lá 3 horas, e chegam a ficar até 6 horas pra conseguir entrar!

Enfim, chegamos em Nazaré era início de noite, umas 17:45, e fomos andando pelo centro velho, pelas ruelas, até encontrarmos o Fauzi Azar Inn, o melhor hostel do Oriente Médio, que vou descrever no post sobre Nazaré, o próximo! 

Dia inteiro de transporte, não tem muitas fotos, só vou postar três:
 Da Jordânia, que vi em todos os cantos fotos do rei e da família real, esses são o príncipe herdeiro e o rei
 Fronteira entre Jordânia e Israel (do norte)
Militar israelense, fofinha! haha

4 comentários:

Anônimo disse...

Aah safadinho!

Lucas Cavalheiro Bueno disse...

Ah, em outro post vou comentar essa história de crianças do exército... no país da guerra

Marcelo disse...

Pois é! Eu demorei quase 3h.. porque fiquei fazendo piada pra outros mochileiros "ainda bem que não comprei minha camiseta do hezbollah".. hahahaha.. E, fiquei encantado com as gatinhas israelenses.. com suas sandalhinhas.. cabelos soltos.. mochilinhas estilosas.. ar de que estão ali prontas pra uma boa conversa.. hahahahaha...

Anônimo disse...

Você é um grande puxa saco de Israel. Beirute é uma cidade maravilhosa, boa comida, noite com festas, sinceramente, o seu blog eu não recomendo pra ninguém.

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